V Fórum: Longevidade é uma conquista, mas exige economia forte e planeamento antecipado

  • Publicado em 25 novembro 2025

Foi com um auditório repleto, com mais de 300 pessoas, que a Fundação António Cupertino de Miranda realizou no dia 4 de dezembro o seu V Fórum, dedicado ao tema “Longevidade: Desafios para a Mudança”. O evento reafirmou a posição central da Fundação no debate demográfico, focando-se na urgência da ação: a necessidade de literacia (financeira e em saúde) e a adaptação da economia.

A mensagem transversal do encontro foi clara: a longevidade é uma conquista civilizacional, mas sem planeamento individual e crescimento económico, torna-se insustentável.

Abertura: O combate ao "Idadismo"

A sessão de abertura contou com a presença do Secretário de Estado Adjunto e do Trabalho, Adriano Rafael Moreira, que definiu o mote institucional. O governante rejeitou a narrativa da longevidade como um "custo", classificando-a como a maior vitória social das últimas décadas, e focou o seu discurso na necessidade de combater o estigma dos mais velhos no mercado de trabalho.

👉 “Muitas vezes olhamos para a demografia e para o envelhecimento como um problema. Não é um problema, é a maior conquista social e civilizacional que tivemos. (…) O desafio não é vivermos mais tempo, é como organizamos a sociedade para esse tempo extra”.

O Governo sublinhou a necessidade de criar mecanismos de reskilling (requalificação) para pessoas de 50 e 60 anos, garantindo que o envelhecimento ativo significa continuar a ser um ativo económico válido.

Painel I: A Revolução Silenciosa e a Literacia

O primeiro painel, moderado por Martim Sousa Tavares, trouxe uma dimensão comportamental ao debate. O maestro explicou o conceito de "desconto hiperbólico" — a tendência do cérebro humano em desvalorizar recompensas futuras, preferindo gastar hoje a poupar para daqui a 30 anos — e a necessidade de a literacia criar uma ligação racional com o nosso "eu" futuro.

Paulo Portas trouxe uma visão estrutural sobre a "geopolítica da idade", alertando para o "inverno demográfico" da Europa e a pressão sobre a Segurança Social.

👉 “Não há economia sem gente”, sublinhou Paulo Portas, argumentando que, a curto prazo, a economia precisa de imigração regulada para manter o sistema funcional, dado que as políticas de natalidade demoram décadas a ter efeito.

Do lado da academia, Carolina Santos e Elísio Costa focaram-se na distinção entre Life Span (tempo de vida) e Health Span (tempo de vida saudável). O grande drama nacional é vivermos muito, mas vivermos mal os últimos anos. A literacia em saúde foi apontada como uma "vacina" que retira pressão ao SNS, ao capacitar o cidadão para a prevenção da doença crónica.

Painel II: A Economia da Longevidade

O segundo debate, com Céline Abecassis-Moedas (Universidade Católica), José Galamba (APS) e Nelson Machado (Ageas), mudou o foco do "problema" para a "oportunidade".

Foi destacado o poder de compra da "Geração Prateada", que detém uma grande fatia da riqueza acumulada, apesar de o marketing continuar obcecado pelos jovens. Discutiu-se a adaptação dos produtos — desde seguros focados na prevenção até tecnologias com design inclusivo — e a gestão de equipas multigeracionais nas empresas, onde o segredo da produtividade está na mistura entre a natividade digital dos jovens e a inteligência emocional e resiliência dos seniores.

Principais Conclusões

O V Fórum encerrou com três vetores estratégicos para o futuro:

  1. Antecipação é a chave: A literacia financeira e de saúde deve começar na escola e nas empresas, aos 30 e 40 anos, e não quando a velhice chega.

  2. Longevidade requer Prosperidade: A estagnação económica é a maior ameaça aos futuros pensionistas; é impossível sustentar uma sociedade envelhecida sem crescimento.

  3. O Sénior é um Ativo: Seja como trabalhador experiente ou consumidor, a demografia 60+ é um motor económico que o país tem de saber valorizar.