Opinião que Conta | Fernando Paulo, Vereador da Educação e da Coesão Social da Câmara Municipal do Porto

A Câmara Municipal do Porto é parceira da Fundação desde o início dos seus maiores projetos de literacia financeira: No Poupar Está o Ganho, dedicado às escolas, e Eu e a Minha Reforma, para pessoas com mais de 55 anos.

Neste último, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda já garantiu a capacitação financeira e digital de mais de 1400 participantes, em diversas atividades do Programa.

Fernando Paulo, Vereador da Educação e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto, explica-nos agora a forma como vê o presente e futuro deste projeto e conta-nos ainda de que formas tem a autarquia contribuído para a promoção do bem-estar da população mais velha.

 

Desde 2020 que a Câmara Municipal do Porto é parceira da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda no projeto Eu e a Minha Reforma. Cerca de dois anos volvidos, que evolução reconhece no projeto até ao momento e como considera que pode esta parceria evoluir no futuro?

O projeto “Eu e a Minha Reforma” está alinhado, desde o seu início, com os objetivos municipais para a intervenção com a população sénior da cidade.

Desde logo, porque abrange, de forma direta ou indireta, os quatro pilares essenciais para o envelhecimento ativo. Vejamos:

A aprendizagem ao longo da vida é o objeto principal deste projeto que possibilita às pessoas seniores acompanhar as exigências da sociedade atual, quer no domínio das ferramentas digitais quer no das competências financeiras, tão necessárias no contexto de permanente mutação das variáveis socioeconómicas em que vivemos.

A aquisição destas competências tem impacto nos restantes três pilares fundamentais para um envelhecimento bem-sucedido.  Por um lado, reforça a sua capacidade de participação, isto é, promove a capacidade das pessoas em gerir, de forma autónoma, a sua cidadania de acordo com as suas preferências, vontades e necessidades.

Por outra via, garante uma maior segurança, uma vez que os participantes ficam dotados de recursos que lhes permitem combater, de forma mais eficaz, uma crescente onda de tentativas de fraudes e burlas financeiras dirigidas a esta população em concreto.

Por outro lado, este tipo de iniciativas promove um reforço da condição de saúde mental das pessoas de maior longevidade, uma vez que estimula dimensões como a sociabilização, a partilha de conhecimento, o reconhecimento, entre outras. Estas são um poderoso bálsamo para quem, não raras vezes, tem a convicção de já não estar em condições de acrescentar valor para si próprio e para a sociedade.

Em conclusão, considerando o forte crescimento do fenómeno de envelhecimento da população portuguesa, em geral, e do concelho do Porto, em particular, associado aos excelentes resultados de impacto que o projeto “Eu e a Minha Reforma” evidenciaram, acredito que este projeto tem todas as condições para continuar a sua tendência de crescimento, enraizando-se nas diversas comunidades.

 

Que importância atribui à promoção da literacia financeira, sobretudo, junto da população mais velha?

Os dados disponibilizados pelo Banco Central Europeu demonstram que, ao nível de literacia financeira, a população portuguesa tem, ainda, um longo caminho a percorrer.

Assim, é inevitável reconhecer a importância destes laboratórios para o desenvolvimento das diferentes competências individuais dos cidadãos, considerando, em particular, a vertente de proteção dos próprios consumidores, dado que existe uma relação bidirecional entre a informação e a tomada de decisão, na qual se verifica que quanto mais e melhores informadas estiverem as pessoas, melhores decisões serão capazes de tomar.

No que respeita à população sénior e idosa, todos estes fatores ganham uma dimensão ainda mais relevante, uma vez que as ferramentas disponibilizadas pelos laboratórios de literacia financeira vertem-se diretamente para questões práticas e quotidianas, permitindo que seja estimulada a  sustentabilidade financeira, a melhoria da capacidade de avaliação de riscos, de prevenção de situações de fraude e burla, bem como de outras situações que podem impactar diretamente na qualidade de vida e bem-estar desta população.

 

Vê a promoção da literacia financeira, independentemente da idade, como um fator determinante para o desenvolvimento desta região e do país?

Claramente que sim. O exemplo da situação atual, com os efeitos da pandemia, acrescidos de uma forte instabilidade económico-financeira decorrente da guerra, mostra a importância da capacidade para tomar decisões financeiramente corretas e ajustadas às circunstâncias. E, como já foi referido, nunca é tarde para adquirir estas competências.

É urgente incrementar as ações educativas neste âmbito para a comunidade educativa, à luz do exemplo do projeto “No Poupar Está o Ganho”, desenvolvido pela Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. Este é o caminho certo para gerar um relevante contributo no combate ao elevado nível de endividamento das famílias e promover a alteração de comportamentos e atitudes, conduzindo ao surgimento de novas gerações de consumidores cada vez mais responsáveis e habilitados.

 

Acredita que programas como o Eu e a Minha Reforma contribuem também para quebrar o isolamento que, apesar de falarmos da segunda maior cidade do país, também aqui assola a população mais velha?

A Câmara do Porto está muito sensibilizada para as questões do isolamento social e da solidão dos seniores da cidade. Nesse sentido, tem provido uma avaliação do fenómeno em parceria com a academia e, de acordo com os dados disponíveis, podemos afirmar que o fenómeno tem relevância e aparenta estar em ciclo crescente. Assim, à medida que vamos tendo mais informação de diagnóstico, maior se torna o compromisso da cidade em intervir neste fenómeno em concreto.

Neste sentido, o Município do Porto, em parceria com entidades de relevo nacional e internacional, tem desenvolvido um conjunto de projetos inovadores que visam mitigar o risco de isolamento social dos mais idosos.

Um bom exemplo do que referi é o projeto “Eu e Minha Reforma”. Como é sabido, com o aumento da idade, as redes sociais informais tendem a diminuir e os processos de socialização podem tornar-se complexos. Estes laboratórios apresentam-se como espaços de socialização de excelência, onde estas redes de contactos das pessoas podem ganhar uma nova estrutura. Os contactos com novas pessoas e as partilhas de experiências contribuem diretamente para o aumento do bem-estar individual que, ainda que subjetivo, é um dos indicadores mais importantes da atualidade. Todos os recursos que reforçam a capacidade de exercício pleno da cidadania são poderosos instrumentos contra o risco de isolamento.

 

De que forma tem contribuído a Câmara Municipal do Porto para a promoção da longevidade. Nomeadamente, que outros projetos são desenvolvidos tendo em vista o bem-estar físico, económico ou social da população sénior?

Considerando o atual contexto sociodemográfico, o atual Executivo assumiu, desde logo, o compromisso de reforçar as respostas dirigidas ao envelhecimento da população, criando ambientes urbanos que fomentem junto das pessoas de maior longevidade uma maior participação cívica. Desta forma, no âmbito da implementação do Plano de Ação “Porto, Cidade Amiga das Pessoas Idosas” pretende-se, para além do desenvolvimento e disseminação de projetos de combate ao risco de isolamento e proteção social em curso, incrementar medidas que estimulem a pessoa sénior a ser protagonista de uma vida ativa e de um envelhecimento positivo e saudável. Para melhor agilizar a intervenção municipal, no alcance deste desígnio, no âmbito da última alteração da macroestrutura, foi criada uma unidade orgânica que terá como missão a intervenção junto da população sénior e idosa em concreto. Por outra via, como é conhecido, o município coordena a Rede Social do Porto, que hoje conta a participação de 296 entidades públicas e privadas. Destas, 64 entidades integram a Unidade Operacional de Intervenção com as pessoas idosas, o que revela uma massa crítica de excelência para em prática iniciativas de promoção de um envelhecimento bem-sucedido.

No que se refere aos projetos desenvolvidos pelo Município com vários parceiros da cidade, procura-se, em permanência, responder às diferentes dimensões e necessidades da vida das pessoas de maior idade. A título de exemplo, posso referir a  recente oferta de transporte individual a um preço simbólico pelo projeto Táxi +65; o projeto “Chave de Afetos” de teleassistência, que permite a permanência dos idosos na sua habitação de forma segura e monitorizada; a oferta de visitas guiadas a locais emblemáticos da cidade através da dinamização do projeto “O Porto é Lindo”; a reabilitação de habitações particulares através do “Projeto Porto Amigo”; o combate ao isolamento e solidão dos idosos, através da promoção do acolhimento de um(a) estudante, através do “Programa Aconchego” ou o projeto “Quem sou eu?”, que tem como principal objetivo trabalhar as estórias de vida e a promoção do autoconhecimento da população sénior, através da Expressão Artística.

Outros projetos estão em fase de início de implementação, como é o caso do “Sempre Acompanhados”, para dar resposta ao desafio da solidão.

Muitos outros projetos e iniciativas são dinamizados pelas várias unidades orgânicas do município. O compromisso, a motivação e a existência de parceiros de excelência na cidade facilitarão a concretização deste desafio: tornar o Porto, a cada dia, uma cidade mais feliz para todas e para todos.